O UNO
O número é a película invisível do
Ser, enquanto que o corpo é a sua parte sensível. Todos os fenómenos naturais
resultam de leis, e as leis manifestam-se através de proporções numéricas.
Balzac dizia que “o movimento é um número
que actua”. A linguagem dos números é uma estrutura mental universal que
está em toda a parte e que pode ser vista sempre. O número é também sinónimo de
numeroso ou pluralidade, porque a Unidade não é um número mas o Infinito que se
pode combinar de forma ilimitada. A Unidade unicamente pode ser captada através
da intuição porque escapa a qualquer registo mental.
A Unidade é a soma de todos os
plurais e perdura na solidão absoluta num tempo sem tempo. As unidades materiais
não o são eternamente, porque estão sujeitas às mudanças. No homem esta Unidade
é representada pela sua Individualidade ou o Indivisível: a Advaitados Hindus.
Esta Unidade Suprema é o Motor
Imóvel que desperta a Ideia do mundo, revelando-se através das múltiplas
divisões ou subtracções de si mesma, transmitindo em cada parte a sua
totalidade. Heraclito dizia que “da multiplicidade das coisas provém o Uno, e
do Uno a multiplicidade”.
No Bhagavad-Gíta,
Krishna explica ao seu discípulo Arjuna o seguinte “Todo o universo é pleno de Mim, o Imanifestado, todos os seres dependem
de Mim e Eu não dependo deles” (B-G PJ.161). Quando a Unidade se manifesta
no Absoluto, Ela é representada pelo Ponto, símbolo da Unidade Primordial.
A DÍADE
O 2 é o princípio da
divisão e da primeira diferenciação: Espírito e Matéria, o Céu e a Terra,
Uranus e Gea, Purusha e Prakriti, Pai e Mãe Cósmicos, do dual vem a origem das
palavras: divergência, dualidade, divisão, diversidade.
Os alquimistas representavam esta
dupla polaridade cósmica pelo Rei e a Rainha, (o sol e a lua para a nossa
dimensão), Aristóteles denominava-as de Substância e Forma.
O círculo é o reflexo do ponto, ao
expandir produz a linha que une o Ser do Não-ser ou a grande ilusão, citando a
Doutrina Secreta, no capitulo III do volume II, no tema da Ilusão universal,
H.P.Blavatsky disse: “Desde o ponto de
vista da metafísica mais elevada, todo o Universo, incluso os Deuses, são uma
ilusão. Mas a ilusão daqueles que são em si mesmo uma ilusão, difere em cada
plano de consciência”.
A dualidade é
contida na Unidade, atrai e repele-se mutuamente, o ternário é o número que põe
em acção a possibilidade de tornar fecunda esta Dualidade.
O Ternário põe em
activação o processo de organização, sendo a Tríade que permite a reacção dos
opostos e a possibilidade de interagir na busca da harmonia. Ela combina o
activo e o passivo e como dizia Balzac “Ele
é a fórmula dos mundos criados”.
O TERNÁRIO
O Logos revestiu-se de 3
aspectos para produzir e desenvolver a ordem, a Lei ou o Dharmam. Na China, Lao
Tsé no Tao Te King ensina que o Tao é um pela sua natureza e que o primeiro
gerou o segundo e os dois geram o terceiro, e que os três fizeram todas as
coisas.
Na velha religião Celta, a Trindade
é composta de Teutatés (a força), Esus (a Luz) e Gwyon (o Espírito); para os
Caldeus encontramos Oannés-Bin-Bel; no Egipto Osiris-Ísis-Horus; na Índia
Védica. Agni-Indra-Soma; na Trimurti: Brahma-Shiva-Vishnu, e os três aspectos
de Brahma: Sat-Chit- Ananda, ou Espírito, vida e existência; na Pérsia:
Ormuzd-Ahriman e Mithra; na religião escandinava: Odin-Frega e Thor; no Cristianismo
temos a Unidade do Pai, a Igualdade do Filho e ambos na harmonia do Espírito
Santo; na Cabala é Sephirah Hachmah o pai, Binah o Filho e Kether a Providência;
nas religiões naturalistas temos o Sol-Lua-Terra; nos ensinamentos teosóficos o
Primeiro Princípio é impessoal e não manifestado, Dele provém o segundo que
contem as duas polaridades Pai e Mãe dos Mundos, e o terceiro princípio é a
Ideação Cósmica, Mahat a Alma do Mundo.
O Terceiro é o Ângulo
que permite a união dos opostos. O Ângulo transforma-se no triângulo, o
Primogénito, ou o número mais velho. Visto de perfil o Triângulo contém o Cone,
que do ponto de vista simbólico resumo o ponto, a linha, o ângulo, a
superfície, e o volume, podendo assim produzir o circulo, a elipse, a parábola
e a hipérbole.
No corpo humano temos a
constituição ternária:
A cabeça
(frontal-nasal-bucal), o tronco e braços (tórax-abdomen-bacia) e pernas
(coxas-pernas-pés) .
As analogias do Ternário
são infinitas e podem ser resumidas pelo AUM, as 3 sílabas sagradas da Índia ou
a voz de Deus, o Verbo que ressoa nos confins do Universo.
O QUATERNÁRIO
O Número 4 é o símbolo da
concretização, é o limite da expansão do mundo, é a forma que contém todo o potencial
da vida evolutiva e que está representada pelos 4 elementos: Fogo, Ar, Água e
Terra, estes elementos representam o processo involutivo quando se traduz pela
materialização em estruturas densas. O Logos aprisionado na matéria vai
actuando nela até esgotar todas as modalidades de retorno à Essência Primeira.
É o tempo que detém e
rege todos os períodos de mudanças até absorver o espaço, alimentando-se da sua
energia de vida e transmutando-a em plena consciência. Os quatro livros
sagrados da Índia, os Vedas, resumem toda a sabedoria da vida, do mesmo modo,
as Quatro Nobres Verdades de Buda são as quatros etapas para alcançar a
Libertação.
Encontramos a cruz como
o símbolo fundamental do número 4, é o quadrado da manifestação com as suas 4
direcções, as 4 Eras, as 4 estações.
O QUINÁRIO
O 5 é o ponto de transição, é o
Spiritus dos alquimistas, como símbolo da encarnação do Verbo Divino na matéria.
É aquele que permite a reorientação da vida no sentido ascendente, Ele é o
sacrifício do Logos que actua no seio do mundo dividido e plural, é o centro
unificador dos quatro braços da cruz, a quinta-essência, o fogo mental, o
vértice da pirâmide, a estrela de cinco pontas símbolo de Vénus.
A palavra Jen na China significa:
Homem e tem o ideograma do pentagrama. Para muitos povos da antiguidade o
número 5 era utilizado como medida de tempo, os 5 anos de retorno dos lustros e
das grande dionisíacas em Roma, do mesmo modo na Grécia realizava-se com a
mesma periodicidade as panathenéas. Para a filosofia védica os 5 modos de
contacto com a realidade material são os 5 sentidos e os 5 conhecedores do Yajur
Veda. Estes constituem também as fontes do erro e da involução, os responsáveis
pelas 5 fontes de sofrimento: Avidya, a ignorância; Asmita, o egoísmo; Raga, o
desejo; Dvesha, o ódio e Abi-Nivesha, o apego à vida. O número 5 é também o
número da saúde ou Hygia, a deusa do equilíbrio entre o corpo e a mente. Na
china são concebidos 5 elementos: terra, madeira, fogo, metal, água, no Egipto
antigo é o símbolo da pirâmide, os Acusmáticos pitagóricos tinham 5 anos de
preparação silenciosa antes de ter acesso ao ensino da sabedoria superior dos
números.
O 5 é a passagem e a
porta para o mundo superior, é a Inteligência que abra o caminho para o
Verdadeiro.
O 6 é o início do caminho
ascendente, pois os quatro primeiros números são descendentes e o quinto é o
canal para a ascensão. O 6 é um número par (passivo), é o espelho que reflecte
os dois mundos, Céu e a Terra, o Alto e o Baixo. É o número da beleza e da obra
perfeita quando existe harmonia entre o Criador e a sua criação. O 6 é também o
número do destino e do karma, a justa relação entre o pensamento e o acto.
Também é o número da morte como processo de reajustamento para alcançar a
Justiça Divina.
A morte permite que a Alma se
purifique através de numerosos nascimentos, é a prova do serviço liberto de
todo os vestígios de egoísmo. “Tu
separarás a Terra do Fogo, o subtil do denso, docemente e com grande
industria.” (Estrofe 6 da “Tábua de Esmeralda”). Na obra mística do Tibete,
chamada “A Voz do Silêncio”, podemos ler os seguintes versos: “ Pois a mente é como um espelho; cobre-se de
pó enquanto reflecte. Ela necessita das suaves brisas da Sabedoria da Alma para
limpar o pó das nossas ilusões. Procura, Ó Principiante, fundir a tua mente e
Alma.” (pg 91 Ed. Portuguesa). Também no Budismo vamos encontrar as 6
Paramitas que são: 1 - Paciência (Shanti), 2 - Caridade (Dâna), 3 - Energia
(Virya), 4 - Sabedoria (Shila), 5 – Contemplação (Dyana) , 6 - Pureza
(Vairagya). Na Índia o duplo Ternário cósmico é representadopelo aspecto Shakti
da Trimurti Divina: Brahma-Saravasti, Shiva-Parvati, Visnhu-Lakshmi.
O Desenho do Hexagrama
ou Selo de Salomão é formado por dois triângulos equiláteras entrelaçados de
cor branca e negra ou então azul e vermelho, as duas cores extremas do espectro
da luz. O 6 é o símbolo da justiça que reajusta os desequilíbrios do karma, é a
submissa obediência ao Eu Superior, e a pureza da nossa conquista interior.
O SEPTENÁRIO
É o
número chave da Harmonia e da obra concluída, é a síntese do caminho evolutivo.
É o ciclo do tempo que fechou o anel da serpente Ouroboros. “O tempo move-se sobre 7 rodas, ele tem 7
nervos” (Atharva-Veda). Na Índia vamos encontrar os ciclos septenários tais
como: as 7 Rondas, os 7 Globos, as 7 raças, as 7 sub-raças, os 7 princípios do
homem etc. O número 7 é o fecho do círculo da evolução que inclui os 7 planos
das emanações, o septenário é a base da constituição do homem tanto na
simbologia Hindu, Egípcia, Chinesa, Grega, etc. Platão falava da Alma séptupla
e no hermetismo de todos os tempos o septenário é a chave que abre as portas à
libertação.
Cada número corresponde
às etapas da nossa evolução, cada número é um período de tempo das nossas
vidas, quanto mais nos dispersamos na multiplicidade numérica mais perdemos a
ligação que nos une à unidade do Ser, só quando a gota voltar ao Oceano é que
deixaremos de buscar o outro que estava em nós.
Françoise Terseur
http://www.nova-acropole.pt/a_numero_vida.html
Bibliografia:
“Le Symbolisme dês
Nombres”, de Docteur R. Allendy, Éditions Traditionnelles, 1948
“Doutrina Secreta – Vol.
II – Simbolismo Arcaico e Universal”, de H.P.Blavastsy, Editora Pensamento.
“A Voz do
Silêncio”, de H.P.Blavatsky, Edições Nova Acrópole, 2005
essencial para andarmos por aqui e talvez parairmos mais além
ResponderEliminar