segunda-feira, 8 de junho de 2015

O NÚMERO E A VIDA



O UNO
O número é a película invisível do Ser, enquanto que o corpo é a sua parte sensível. Todos os fenómenos naturais resultam de leis, e as leis manifestam-se através de proporções numéricas. Balzac dizia que “o movimento é um número que actua”. A linguagem dos números é uma estrutura mental universal que está em toda a parte e que pode ser vista sempre. O número é também sinónimo de numeroso ou pluralidade, porque a Unidade não é um número mas o Infinito que se pode combinar de forma ilimitada. A Unidade unicamente pode ser captada através da intuição porque escapa a qualquer registo mental.
A Unidade é a soma de todos os plurais e perdura na solidão absoluta num tempo sem tempo. As unidades materiais não o são eternamente, porque estão sujeitas às mudanças. No homem esta Unidade é representada pela sua Individualidade ou o Indivisível: a Advaitados Hindus.
Esta Unidade Suprema é o Motor Imóvel que desperta a Ideia do mundo, revelando-se através das múltiplas divisões ou subtracções de si mesma, transmitindo em cada parte a sua totalidade. Heraclito dizia que “da multiplicidade das coisas provém o Uno, e do Uno a multiplicidade”.
No Bhagavad-Gíta, Krishna explica ao seu discípulo Arjuna o seguinte “Todo o universo é pleno de Mim, o Imanifestado, todos os seres dependem de Mim e Eu não dependo deles” (B-G PJ.161). Quando a Unidade se manifesta no Absoluto, Ela é representada pelo Ponto, símbolo da Unidade Primordial.

A DÍADE
O 2 é o princípio da divisão e da primeira diferenciação: Espírito e Matéria, o Céu e a Terra, Uranus e Gea, Purusha e Prakriti, Pai e Mãe Cósmicos, do dual vem a origem das palavras: divergência, dualidade, divisão, diversidade.
Os alquimistas representavam esta dupla polaridade cósmica pelo Rei e a Rainha, (o sol e a lua para a nossa dimensão), Aristóteles denominava-as de Substância e Forma.
O círculo é o reflexo do ponto, ao expandir produz a linha que une o Ser do Não-ser ou a grande ilusão, citando a Doutrina Secreta, no capitulo III do volume II, no tema da Ilusão universal, H.P.Blavatsky disse: “Desde o ponto de vista da metafísica mais elevada, todo o Universo, incluso os Deuses, são uma ilusão. Mas a ilusão daqueles que são em si mesmo uma ilusão, difere em cada plano de consciência”.
A dualidade é contida na Unidade, atrai e repele-se mutuamente, o ternário é o número que põe em acção a possibilidade de tornar fecunda esta Dualidade.
O Ternário põe em activação o processo de organização, sendo a Tríade que permite a reacção dos opostos e a possibilidade de interagir na busca da harmonia. Ela combina o activo e o passivo e como dizia Balzac “Ele é a fórmula dos mundos criados”.

O TERNÁRIO
O Logos revestiu-se de 3 aspectos para produzir e desenvolver a ordem, a Lei ou o Dharmam. Na China, Lao Tsé no Tao Te King ensina que o Tao é um pela sua natureza e que o primeiro gerou o segundo e os dois geram o terceiro, e que os três fizeram todas as coisas.
Na velha religião Celta, a Trindade é composta de Teutatés (a força), Esus (a Luz) e Gwyon (o Espírito); para os Caldeus encontramos Oannés-Bin-Bel; no Egipto Osiris-Ísis-Horus; na Índia Védica. Agni-Indra-Soma; na Trimurti: Brahma-Shiva-Vishnu, e os três aspectos de Brahma: Sat-Chit- Ananda, ou Espírito, vida e existência; na Pérsia: Ormuzd-Ahriman e Mithra; na religião escandinava: Odin-Frega e Thor; no Cristianismo temos a Unidade do Pai, a Igualdade do Filho e ambos na harmonia do Espírito Santo; na Cabala é Sephirah Hachmah o pai, Binah o Filho e Kether a Providência; nas religiões naturalistas temos o Sol-Lua-Terra; nos ensinamentos teosóficos o Primeiro Princípio é impessoal e não manifestado, Dele provém o segundo que contem as duas polaridades Pai e Mãe dos Mundos, e o terceiro princípio é a Ideação Cósmica, Mahat a Alma do Mundo.
O Terceiro é o Ângulo que permite a união dos opostos. O Ângulo transforma-se no triângulo, o Primogénito, ou o número mais velho. Visto de perfil o Triângulo contém o Cone, que do ponto de vista simbólico resumo o ponto, a linha, o ângulo, a superfície, e o volume, podendo assim produzir o circulo, a elipse, a parábola e a hipérbole.
No corpo humano temos a constituição ternária:
A cabeça (frontal-nasal-bucal), o tronco e braços (tórax-abdomen-bacia) e pernas (coxas-pernas-pés) .
As analogias do Ternário são infinitas e podem ser resumidas pelo AUM, as 3 sílabas sagradas da Índia ou a voz de Deus, o Verbo que ressoa nos confins do Universo.

O QUATERNÁRIO
O Número 4 é o símbolo da concretização, é o limite da expansão do mundo, é a forma que contém todo o potencial da vida evolutiva e que está representada pelos 4 elementos: Fogo, Ar, Água e Terra, estes elementos representam o processo involutivo quando se traduz pela materialização em estruturas densas. O Logos aprisionado na matéria vai actuando nela até esgotar todas as modalidades de retorno à Essência Primeira.
É o tempo que detém e rege todos os períodos de mudanças até absorver o espaço, alimentando-se da sua energia de vida e transmutando-a em plena consciência. Os quatro livros sagrados da Índia, os Vedas, resumem toda a sabedoria da vida, do mesmo modo, as Quatro Nobres Verdades de Buda são as quatros etapas para alcançar a Libertação.
Encontramos a cruz como o símbolo fundamental do número 4, é o quadrado da manifestação com as suas 4 direcções, as 4 Eras, as 4 estações.

O QUINÁRIO

O 5 é o ponto de transição, é o Spiritus dos alquimistas, como símbolo da encarnação do Verbo Divino na matéria. É aquele que permite a reorientação da vida no sentido ascendente, Ele é o sacrifício do Logos que actua no seio do mundo dividido e plural, é o centro unificador dos quatro braços da cruz, a quinta-essência, o fogo mental, o vértice da pirâmide, a estrela de cinco pontas símbolo de Vénus.
A palavra Jen na China significa: Homem e tem o ideograma do pentagrama. Para muitos povos da antiguidade o número 5 era utilizado como medida de tempo, os 5 anos de retorno dos lustros e das grande dionisíacas em Roma, do mesmo modo na Grécia realizava-se com a mesma periodicidade as panathenéas. Para a filosofia védica os 5 modos de contacto com a realidade material são os 5 sentidos e os 5 conhecedores do Yajur Veda. Estes constituem também as fontes do erro e da involução, os responsáveis pelas 5 fontes de sofrimento: Avidya, a ignorância; Asmita, o egoísmo; Raga, o desejo; Dvesha, o ódio e Abi-Nivesha, o apego à vida. O número 5 é também o número da saúde ou Hygia, a deusa do equilíbrio entre o corpo e a mente. Na china são concebidos 5 elementos: terra, madeira, fogo, metal, água, no Egipto antigo é o símbolo da pirâmide, os Acusmáticos pitagóricos tinham 5 anos de preparação silenciosa antes de ter acesso ao ensino da sabedoria superior dos números.
O 5 é a passagem e a porta para o mundo superior, é a Inteligência que abra o caminho para o Verdadeiro.

O SENÁRIO
O 6 é o início do caminho ascendente, pois os quatro primeiros números são descendentes e o quinto é o canal para a ascensão. O 6 é um número par (passivo), é o espelho que reflecte os dois mundos, Céu e a Terra, o Alto e o Baixo. É o número da beleza e da obra perfeita quando existe harmonia entre o Criador e a sua criação. O 6 é também o número do destino e do karma, a justa relação entre o pensamento e o acto. Também é o número da morte como processo de reajustamento para alcançar a Justiça Divina.
A morte permite que a Alma se purifique através de numerosos nascimentos, é a prova do serviço liberto de todo os vestígios de egoísmo. “Tu separarás a Terra do Fogo, o subtil do denso, docemente e com grande industria.” (Estrofe 6 da “Tábua de Esmeralda”). Na obra mística do Tibete, chamada “A Voz do Silêncio”, podemos ler os seguintes versos: “ Pois a mente é como um espelho; cobre-se de pó enquanto reflecte. Ela necessita das suaves brisas da Sabedoria da Alma para limpar o pó das nossas ilusões. Procura, Ó Principiante, fundir a tua mente e Alma.” (pg 91 Ed. Portuguesa). Também no Budismo vamos encontrar as 6 Paramitas que são: 1 - Paciência (Shanti), 2 - Caridade (Dâna), 3 - Energia (Virya), 4 - Sabedoria (Shila), 5 – Contemplação (Dyana) , 6 - Pureza (Vairagya). Na Índia o duplo Ternário cósmico é representadopelo aspecto Shakti da Trimurti Divina: Brahma-Saravasti, Shiva-Parvati, Visnhu-Lakshmi.
O Desenho do Hexagrama ou Selo de Salomão é formado por dois triângulos equiláteras entrelaçados de cor branca e negra ou então azul e vermelho, as duas cores extremas do espectro da luz. O 6 é o símbolo da justiça que reajusta os desequilíbrios do karma, é a submissa obediência ao Eu Superior, e a pureza da nossa conquista interior.

O SEPTENÁRIO
É o número chave da Harmonia e da obra concluída, é a síntese do caminho evolutivo. É o ciclo do tempo que fechou o anel da serpente Ouroboros. “O tempo move-se sobre 7 rodas, ele tem 7 nervos” (Atharva-Veda). Na Índia vamos encontrar os ciclos septenários tais como: as 7 Rondas, os 7 Globos, as 7 raças, as 7 sub-raças, os 7 princípios do homem etc. O número 7 é o fecho do círculo da evolução que inclui os 7 planos das emanações, o septenário é a base da constituição do homem tanto na simbologia Hindu, Egípcia, Chinesa, Grega, etc. Platão falava da Alma séptupla e no hermetismo de todos os tempos o septenário é a chave que abre as portas à libertação.
No cristianismo encontramos os 7 sacramentos da igreja, com as 7 virtudes e pecados capitais. No Budismo as quatro iniciações possuíam 7 degraus de perfeição ou 7 Portais. Podemos também encontrar os 7 dias da criação, os 7 raios do sol. No Egipto encontramos os 7 pedaços dispersos do corpo de Osíris como símbolo da Unidade da consciência fragmentada no mundo da matéria.
Cada número corresponde às etapas da nossa evolução, cada número é um período de tempo das nossas vidas, quanto mais nos dispersamos na multiplicidade numérica mais perdemos a ligação que nos une à unidade do Ser, só quando a gota voltar ao Oceano é que deixaremos de buscar o outro que estava em nós.



Françoise Terseur

 http://www.nova-acropole.pt/a_numero_vida.html



Bibliografia:
“Le Symbolisme dês Nombres”, de Docteur R. Allendy, Éditions Traditionnelles, 1948
“Doutrina Secreta – Vol. II – Simbolismo Arcaico e Universal”, de H.P.Blavastsy, Editora Pensamento.
“A Voz do Silêncio”, de H.P.Blavatsky, Edições Nova Acrópole, 2005

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